FICÇÃO SOBRE UMA DITADURA PINTADA DE DEMOCRACIA

A mentira, a ficção e as falsas promessas são o elixir de um regime que vem atentando, violentamente, contra o sonho de milhões de angolanos, com a maior insensatez, espezinhando, vampirescamente, os direitos humanos de jovens, crianças e mulheres inocentes.

Por William Tonet

O dia 3 de Outubro de 2024 é mais uma data lamentável, a juntar ao “oceano de crimes” praticado contra famílias inocentes, pela Polícia Nacional Partidiocrata. Um agente policial foi acusado de ter violado, numa unidade policial (na região do Zango – Luanda), no interior de uma viatura avariada, uma criança de 14 anos de idade.

Fê-lo com violência, covardia e sob ameaça de arma de fogo à cabeça da vítima, para satisfazer a fornicação lascívia.

“O agente agiu como um cão! Um monstro. Um homem sem sensibilidade, que não teve pudor de violar, porque queria ter a sensação de “descabaçar” (tirar a virgindade) de uma menina, como disse a amigos. Um sujeito desta estirpe, merece que lhe cortem, em público, o pénis e o deixem esvair-se até aos últimos minutos de respiração”, sugeriu Antunes Manuel Augusto, que denunciou ao Folha 8, esta barbárie.

A pena de morte está constitucionalmente proibida, mas este homem, degastado com o que aconteceu “a minha menina”, não descarta, que ela vingue, em crimes hediondos como este.

“Eu não confio na Polícia, nem na justiça, que actualmente, temos em Angola, por albergar(em), no seu seio, muitos delinquentes que se escondem e protegem por detrás das fardas e togas. Mas lhe garanto, não sendo um bandido como eles, este senhor não vai viver tranquilo, pois não vou permitir que ele continue a atacar outras vítimas”, concluiu.

Este é um triste relato. Indescritível! Mas a imagem de um cenário que calcorreia, na doutrina comportamental policial, que para defender os barões do regime, não se coíbe de cometer os mais bárbaros crimes contra cidadãos inocentes.

Hoje (Outubro de 2024), para desgraça colectiva, Angola está convertida no império da violência, tal como foi o de Roma e do Apartheid, na África do Sul, que assassina as populações, quer pelas balas, disparadas pela Polícia e Forças Armadas, como pela Economia e programa neoliberal, impondo a “FOME TOTAL”, as populações para as vergar a submissão. Esta prática vampira, limita o acesso da maioria pobre, politicamente, desempregada e com baixos salários, à comida, salvo os restos e sobejos, encontrados nos contentores e monturos de lixo.

Este é o retrato mais fiel dos 50 anos de governação do regime, depois da partida dos colonizadores portugueses.

O DILÚVIO CONTINUA…

Por isso é importante rememorar, que em 1975, o MPLA prometeu aos ex-colonizados (maioria autóctone), a construção de “um homem novo”. Foi o hastear de uma bandeira, que diziam socialista, sob o lema: “agricultura é a base e a indústria o factor decisivo”, com o objecto da classe operária chegar ao poder. Falhou!

As primeiras medidas foram, paradoxalmente, acabar com as indústrias e as fazendas agro-pecuárias, temendo as reivindicações dos operários e camponeses, se violentados os seus direitos. Assim, de produtores passamos a importadores, em pouco tempo.

No interior (Angola profunda), as cantinas, lavras familiares e as carrinhas Bedford, muitas administradas por pretos e brancos da terra, foram combatidas e descontinuadas. As carrinhas, a pala de serem americanas e ou colonialistas, conheceram uma brusca limitação à importação de peças e sobressalentes. Estratégia para impedir o escoamento dos produtos do campo para as cidades e, até, alguns ganhos que as populações autóctones tinham nos matos, como candeeiros Petromax e geleiras a petróleo.

Na euforia, anti-imperialista, os libertados das amarras coloniais, baseados na “verborreia” de Neto pensaram, que jamais voltariam a ser “contratados, comer fuba podre, peixe podre e porrada se refilassem”, como no tempo colonial.

Ledo engano.

Agostinho Neto ao invés de aproveitar o potencial industrial e agrário herdado, incompetentemente, destruiu, para importar dos países socialistas, como o crime de “assassinar” as açucareiras do país, para trazer açúcar de Cuba, feijão e óleo da União Soviética e IFA da Alemanha Democrática.

Escancarou, no modelo de economia centralizada, que dele não tinha noção, em 1975, as portas à corrupção institucional, criando as lojas dos dirigentes (onde havia todos bens alimentares do gosto dos ricos colonialistas) e lojas do povo, onde, na maioria das vezes, havia mais pensos higiénicos femininos que fuba e feijão. Se alguém quisesse um bom bife, frango ou outra iguaria, tinha de corromper um membro do comité central do MPLA (detentor do cartão) ou trabalhador da dita loja dos dirigentes. Eis o início e o pai de toda a baderna corruptiva…

Mas continuemos a desfolhar o rosário, para ver que os hábitos de hoje, foram plantados no ontem, como a implantação sub-reptícia do racismo, que teve em Agostinho Neto (negro complexado e assimilado), um dos seus arautos, pese ter casado com mulher portuguesa branca e ter filhos mulatos, ele engendrou uma perseguição a muitos brancos nascidos em Angola, que não aderissem a sua tese, conotando-os como colonialistas ou filhos destes. Alguns foram forçados a regressar como retornados a Portugal, onde estavam desenraizados e outros despojados de tudo, foram minguando pelo país, muitos conduzidos injustamente às cadeias, sem culpa formada.

1976-1977 foi o apogeu dos brancos e mulatos, aliados a Agostinho Neto, paradoxalmente, muitos portugueses, iniciarem uma verdadeira caçada, selectiva, perseguindo, nacionalizando bens e propriedades, prendendo ou assassinando brancos e mulatos revolucionários, verdadeiramente, comprometidos com os sentimentos de Angola.

Um exemplo, se passou no 27 de Maio de 1977, quem matou Sita Valles, Zé Candongo, Rui Coelho, Ademar Valles e outros, não foram pretos da DISA, mas esta corja de brancos e mulatos aliados ao presidente do MPLA, que contribuíram para a eliminação da intelligentsia autóctone de então, impondo a burralização institucional, em que analfabetos chegaram a ser nomeados para governadores de províncias (maiores que países europeus), por mero populismo.

MESMO SEM PELE A COBRA CONTINUA VENENOSA

Atentemos que de 1975 à 2024, apenas mudou o que nada mudou, salvo a cadência do chicote, que transitou das mãos do branco colonial português, para as do negro complexado, assimilado, negro que de pseudo libertador se transformou, qual ADN, em torturador e genocida, impondo o império do medo, a maioria dos pretos, através de injustiças, prisões, torturas e fuzilamentos públicos.

A distância com muitas das práticas nazistas é curtíssima… Quase nula!

Os assassinatos da Polícia Nacional Partidocrata do MPLA, nos últimos oito anos, multiplicam-se todos os dias, sob o olhar cúmplice do Comandante Geral, do ministro do Interior e do Presidente da República.

No dia 3 de Outubro de 2024, dez (10) crianças, dos 8 aos 14 anos de idade, foram selvaticamente presas, por ordem do comandante Samy da 4.ª Esquadra de Luanda, por estarem numa vigília com os pais, defronte a SONANGOL.

No Huambo (2.10.24), o menino, Ngola José de 16 anos, foi alvejado com um tiro na cabeça, tal como na manifestação pacífica e sem armas, o fora, também, no centro da cabeça, o estudante do 3.º ano de engenharia, no 11.11.20, Inocêncio da Mata.

A vendedora ambulante, Joana Cafrique, com um filho às costas, sucumbiu às balas “nazi-policiais” no 12.03.19, tal como Raquel Kalupe, no 10.12.22, no Kassequel do Lourenço, em Luanda.

As mulheres, crianças e jovens têm sido as principais vítimas do poder policial no consulado do Presidente da República, João Lourenço, superiormente assessorado pelo presidente do MPLA, João Lourenço, que nem intelectuais poupa, como o professor doutor, Laurindo Vieira, reitor da Universidade Gregório Semedo, no 11 de Janeiro de 2024, em plena luz do dia, no Bairro Patriota. Isso mostra a natureza masoquista de um regime cada vez mais avesso às práticas de ideias plurais, mas comprometido com a ditadura.

E de injustiça, em injustiça, até a injustiça final, completaram, um ano (16.09.23-16.09.24), nas fedorentas masmorras do regime, quatro jovens inocentes; Adolfo Campos, Tanaice Neutro, Gildo das Ruas e Pensador, boçalmente condenados, por crime não cometido: realização de manifestação, ao abrigo do art.º 47.º CRA, de apoio e solidariedade aos moto-taxistas, que sequer iniciou quando foram detidos.

Essa prisão serve como cobaia, intimidatória para o regime destilar o medo na juventude, oposição política e sociedade civil, que nos marcos constitucionais, queiram manifestar-se, para denunciar irregularidades, injustiças, crimes de peculato e de corrupção dos agentes públicos, que estão em alta e são a causa da fome, miséria, inflação, desemprego e alto preço dos produtos da cesta básica.

Nos últimos 8 anos, a vida dos povos, que viram na promessa de combate a corrupção de José Eduardo dos Santos, por parte de João Lourenço viram as suas vidas piorar em todos quesitos. E, até a mixa dos pobres, JLO confiscou… Daí que, neste curto período, José Eduardo tenha sido “canonizado” e o MPLA com a actual direcção esteja na lama, quanto à credibilidade e popularidade.

Ao ponto de uma mulher, no pedestal da sua autoridade maternal, sem querer entrar no mérito da honestidade pedir, publicamente, ao Presidente João Lourenço: “nos devolva só o nosso gatuno”!

A relevância desta voz é o claro reflexo da tristeza de milhões, que nem no tempo da guerra se alimentavam nos contentores de lixo e conheceram tantos assassinatos. daí a “vox populis”, não ter pejo de comparar os antes de 2016 e o actual (2017- 2044): “Se José Eduardo dos Santos era corrupto, ele roubava mas deixava o povo comer e fazer o seu negócio sem aceitar estes impostos assassinos, as políticas de desemprego, a venda das empresas públicas, os juros altos impostos pelo FMI”, assegurou o activista social do Huambo, Patrocínio Ngola.

Ninguém em Angola tem a expertise camaleónica do MPLA de, para garantir a manutenção do poder, prometer, aos povos, o paraíso de noite e o inferno de dia…

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